Quem é da turma da soneca no meio do dia sabe o quanto os benefícios dessa paradinha estratégica são importantes para o bom funcionamento do corpo e mente. O hábito é compartilhado por mentes brilhantes como foi a de Winston Churchill (1874-1695), que não abria mão de tirar um cochilo diariamente por volta de 17h, mesmo em guerra. Depois de uma hora e meia de descanso, ele tomava banho, jantava e voltava ao trabalho até 1h da manhã. A rotina recomeçava com a pontualidade britânica às 7h30 do dia seguinte. Churchill dizia que o hábito fazia com quem ganhasse dois dias em vez de um. Acredite se quiser, mas até mesmo a Nasa recomenda uma soneca a pilotos e astronautas.
Quem ainda não acredita nisso ou acha balela pura pode começar a repensar, uma vez que esses benefícios do sono vespertino são cientificamente comprovados. Como bem se sabe, só é verdade o que aparece publicado em veículos com credibilidade. E é exatamente esse o caso. No início do ano foi publicada uma pesquisa na revista médica Heart, realizada no Hospital Universitário de Lausanne, na Suíça.
Cerca de 3.400 voluntários com idades entre 35 e 75 anos tiveram seus hábitos de sono monitorados pela equipe da epidemiologista Nadine Häusler. Cinco anos após o início da pesquisa, Häusler concluiu que tirar uma pestana uma ou duas vezes por semana reduz em até 48% o risco de eventos cardiovasculares como infartos e AVCs. A epidemiologista explica que os cochilos são uma forma de compensação fisiológica que diminui o nível de estresse após noites mal dormidas.
Mas não é somente o coração que agradece quando você tira uma soneca à tarde. O cérebro fica especialmente feliz, sobretudo em idosos. É o que revela outro estudo, este realizado pela Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos, e publicado no periódico Journal of the American Geriatrics Society.
Nele, 2.900 chineses acima de 65 anos tinham tarefas a realizar, como resolver equações matemáticas, memorizar sequências de palavras e responder a perguntas do tipo “Em que estação do ano estamos?”. A coordenadora da pesquisa é a médica Junxin Li. O que ela concluiu é que aqueles que cochilavam cerca de 30 minutos, até por volta das 16 horas, foram os que apresentaram melhores resultados.
Outra grande entusiasta da pestana é a Nasa, agência espacial americana. Durante experimento realizado pela própria agência ficou comprovado que quem repousa cerca de 20 minutos após a principal refeição do dia tem sua capacidade de raciocínio e memória aumentada em 34% e sua habilidade para tomar uma decisão acertada sobe 54%.
Mas dá mesmo para descansar em tão pouco tempo? Muitos de nós não conseguem sequer pegar no sono antes do tempo acabar. Acredite: dá sim. “Cochilos curtos, de 15 minutos, são suficientes para causar um ‘reset’ no corpo e no cérebro”, afirma a pediatra Lucila Prado, do Departamento Científico do Sono da Academia Brasileira de Neurologia.
A dúvida leva a um outro questionamento: quanto tempo é suficiente para esse cochilo? Para essa reposta é preciso compreender que são quatro os estágios do sono: 1, 2, 3 e REM. Esse ciclo completo, do 1 ao REM, dura cerca de uma hora e meia a duas horas e se repete entre quatro e cinco vezes ao longo da noite. Assim, 15 minutinhos bastam, mas se tiver tempo, estique o sono até no máximo duas horas. Mais do que isso pode prejudicar ao invés de ajudar, fazendo com que você acorde mal-humorado, irritadiço, ou, pior, tenha dificuldade de pegar no sono mais tarde.
Antes de levantar a bandeira da sonequinha é preciso ter em mente também que a prática não é recomendada a qualquer um. “Apenas a quem trabalha em turnos ou não dorme o suficiente à noite”, ressalva a neurologista Andrea Bacelar, que é presidente da Associação Brasileira do Sono.
A soneca perfeita deve acontecer em um local silencioso e climatizado, de preferência mais escuro (aqui vale até mesmo a máscara de dormir se não for possível fechar as cortinas). Quem descansa em locais mais barulhentos pode usar protetores auriculares ou usar fones para ouvir música clássica ou, quem sabe, um barulho de cachoeira?! O melhor horário para a pestana é logo após o almoço, entre 13h e 15h. As sonecas mais tarde podem influenciar a qualidade do sono principal.
*Texto produzido pela redação do Jornal da Manhã
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